O nosso sistema imunológico é complexo e possui vários componentes. Além dos glóbulos brancos presentes na nossa corrente sanguínea, o cérebro também possui suas próprias células imunológicas, as micróglias.
Glóbulo branco / leucócito
Elas atuam como a primeira forma de defesa efetivamente ativa no nosso sistema nervoso central e exercem uma vigilância do tecido cerebral e da medula, assim como os macrófagos associados, os CAMs.
Esses CAMs são moléculas responsáveis pela ligação entre as células ou entre elas e a matriz extracelular. Alojam-se em torno dos vasos sanguíneos e dos tecidos que revestem as meninges (membranas que envolvem o sistema nervoso central) e o plexo coroide (uma rede de capilares que fabrica o líquido cefalorraquidiano (LCR)).
Estudos recentes apontam que os microrganismos presentes no intestino podem ter influência sobre algumas propriedades da micróglia, entretanto, os efeitos da microbiota nas CAMs permanecem sem maiores detalhes. Em pesquisas com células cerebrais de camundongos cultivadas em um recipiente os pesquisadores encontraram indícios de que a microbiota ajuda a regular os perfis de expressão gênica e a quantidade de macrófagos do plexo coroide, assim como, em menor grau, macrófagos perivasculares e meníngeos.
A infecção em camundongos livres de vírus provocou uma resposta imune amenizada das moléculas CAM. Em um camundongo com a doença de Alzheimer foi observado uma maior absorção do beta-amilóide (um dos principais componentes encontrados no cérebro de pessoas com Alzheimer) pelos macrófagos que ficam em volta dos vasos sanguíneos nos animais que não possuem germes.
Daniel Erny (Universidade de Freiburg) em conjunto com alguns colegas, utilizaram diferentes abordagens para manipulação da microbiota, modelos de camundongos e análises da expressão gênica para definir a função e composição das moléculas CAM. Nas células micróglias de tais camundongos foram encontrados altos níveis de Apolipoproteína E, uma proteína que reduz o desenvolvimento e expressão das micróglias, ou seja, por possuir um estado “imaturo” de tais células, consequentemente, o sistema imunológico cerebral tem sua eficácia reduzida.
Para analisar as alterações sofridas pelas CAMs, foram infectados camundongos que não possuíam germes e foi feita a comparação com camundongos infectados com o vírus da coriomeningite linfocítica, que é o responsável por algumas doenças cerebrais em humanos. A seguir, os pesquisadores analisaram a evolução das CAMs após quatro dias, mais ou menos.
Os pesquisadores constataram que, após a infecção, a micróglia dos camundongos do grupo controle teve sua densidade ampliada, o que não foi tão proeminente nos camundongos sem germes. Demais análises apontaram que a infecção provocou uma resposta imune branda de todas as CAMs dos animais sem germes.
Após esse estudo, a equipe analisou a ação das CAMs em um modelo de camundongo com a doença de Alzheimer. No cérebro dos animais sem germes e dos tratados com antibióticos, foi percebido uma deposição menor do peptídeo beta-amilóide, componente encontrado no cérebro de pessoas com Alzheimer. Assim como também foi observado um aumento na absorção de tal peptídeo pelos macrófagos perivasculares nos animais sem germes.
Este fato leva a entender, portanto, que a microbiota pode atuar na regulação e absorção do peptídeo beta-amilóide, colaborando assim para a conclusão da doença, caso a depuração do peptídeo sofra algum prejuízo.
Tais estudos são muito importantes para aumentar cada vez mais o conhecimento sobre como se dá a interação entre a microbiota intestinal e as células cerebrais em pacientes saudáveis ou com alguma doença neurodegenerativa, como o Alzheimer, por exemplo.
- Fonte: Gabbia Insights (Edição 32, dezembro de 2021).
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